P a i s a g e n s e
n g o l i d a s é uma exposição que integra a
defesa de Mestrado em antropologia da artista canadense Véronique Isabelle
que é membro do coletivo de artistas do Atelier do Porto, de
título “Mergulhar nas águas e trilhar o Porto do Sal, ensaios sobre um percurso
etnográfico”, realizado na Universidade Federal do Pará, sob a orientação do
Prof. Dr. Flávio Leonel da Silveira. A defesa acontecerá terça-feira (23/07) na
Casa Rosada, às 10h da manhã e, em seguida, a exposição será aberta ao público.
A visitação vai de 11h às 18h, somente no dia 23 de julho.
A exposição reúne trabalhos produzidos
no decorrer dos dois anos de pesquisa da artista no Porto do Sal, onde a arte
se apresenta como meio de inserção e imersão em suas paisagens portuárias. As
obras se apresentam como um conjunto de encontros gravados, inscritos,
desenhados, pintados que possuem um caráter documental próprio, testemunham um
tempo compartilhado, se configuram como experiência artística singular.“As
minhas deambulações nas paisagens do Porto do Sal e os encontros com as pessoas
me levaram a descobrir um universo rico e diversificado de conhecimentos e de
modos de viver”. O porto concentra várias realidades presentes na cidade de
Belém, além de possuir uma forte relação com as culturas ribeirinhas da região
e com o universo da pesca artesanal. As suas imediações apresentam construções
de moradias onde diversas famílias vivem, bem como o comércio formal e informal
– onde o tráfico de drogas, a prostituição, as festas de technobrega convivem
no cotidiano dos moradores e trabalhadores. “A partir da pesquisa que
realizei no local, foi possível conhecer algumas dessas realidades que passam
facilmente despercebidas, ampliando assim a compreensão deste contexto social,
bem como de aspectos da cultura amazônica contemporânea em meio urbano”.
Mais
do que uma apropriação do lugar, a mostra compartilha a experiência do encontro
com o Outro e suas paisagens. É um
convite para trilhar o Porto do Sal e mergulhar neste universo complexo, muitas
vezes invisível, a partir de uma experiência singular.
Leia também o texto curatorial da exposição.
A estética
do olhar sensível de Véronique Isabelle
Mergulhar nas águas deste rio e chegar ao
fundo de si. Como um estrangeiro revelar a força perturbadora das imagens que
nos ultrapassam, e como um estrangeiro emergir na margem oposta, diverso de si
porque outro. Singrar a partir do porto pelas águas densas deste mundo,
cujas encantarias se perderam – ou persistem nele poeticamente absurdas - entre
a alegria de viver e a violência cotidiana de uma rítmica citadina alheia a
este mesmo rio e as pessoas que vivem em sua ribeira.
Nos furos e nos meandros entre as matas reencontrar
a riqueza do olhar que se desloca pelos labirintos da alteridade e respeitá-la
pela sua diferença, por alcança-la como forma social barroca em devir. Em sua
dobra, infinita e inacessível como todo: almejar no encontro a possibilidade de
estar-junto e de conhecer desde o complicado de seu tempo enrolado.
Descentrar-se. Revelar-se outro ao outro e simplesmente ser em suas paisagens, vibrando
no espaço das tardes quentes antes do cair da chuva.
Deambular nas incertezas dos trapiches com a
astúcia de sua gente e mergulhar como os meninos afundam nos devaneios
das águas. Desenho mourisco de uma arquitetura de vida complexa neste
porto, repleto de memórias aderidas às paredes e às carnes expostas:
vísceras comuns, sarjetas fétidas e sorrisos em bocas de crianças que brincam
como querendo vislumbrar o porvir.
Ser malandro e ser fiel à santinha. Num
lugar qualquer do bairro o velho casarão derruído espera o seu fim. Sequer
deixar de sonhar apesar da tempestade. Por entre portos e águas um olhar
de mulher se ilumina.
Para a Véro que me fez entender melhor o
que é ser estrangeiro.
Para a Véro como um beijo.
Flávio Abreu
Currículo Resumido
Véronique Isabelle (1983) – Mestre em
Antropologia Social pelo PPGA / Universidade Federal do Pará. Bacharel em Artes Visuais formada pela
Université Laval (Québec) e École Supérieure des Beaux-Arts de Marseille (France)
/ Membro ativa do Coletivo do Atelier do Porto. Principais Exposições :
Exposições solos de pintura: “Larguer les Amarres” -2005 e “Le quai et l’écho
-2008 na Galerie 67, em Québec (Canadá); Exposições Coletivas : “Beautifull
Étranger” – 2006 na Galeria Mongrand em Marselha, França; 26° Simpósio
Internacional de Arte Contemporânea de Baie-St-Paul -2008 (Canadá); “Realidades
Transitórias” - 2008, apresentada na Casa das 11 Janelas, em Belém; “Paná Paná”
- 2010, na Galeria Théodoro Braga, em duo com Elaine Arruda ; “Entre nós” apresentada
no Fotoativa com o duo VeryWell (com Elaine Arruda) ; SP Estampa – 2011, com o
duo Very Well ; “Gravura contemporânea no Para”- CCBEU, em Belém; XXX Salão
Arte Pará como artista convidada com Elaine Arruda; “Vento Norte” na Galeria
Brasileira, em São Paulo – 2012, organizou e participou do projeto
“Coletiva/Coletivos” reunindo três exposições coletivas e ciclos de
conferencia ; participou também de
diversas outras exposições coletivas na França, no Brasil e no Canadá.
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