segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vento Norte



Por Armando Sobral

Esta coletiva celebra conquistas significativas: faz dez anos que um grupo determinado de artistas e estudantes universitários reuniu-se para criar um atelier público de gravura em Belém, motivado pela necessidade de praticar e ensinar essa modalidade artística para adultos, jovens e adolescentes, na sua grande maioria de baixa renda ou provenientes de escolas públicas. Tem sido um tempo de construção em que a Galeria Gravura Brasileira esteve aberta a esse esforço e acolheu a produção que começava a chegar daquele ponto longínquo. Desse movimento inicial aos dias de hoje completa-se um ciclo importante de preparação e de permanência do trabalho com a criação do coletivo Atelier do Porto.
A gravura na região amazônica destaca-se com a produção que surge na última década no estado do Pará, principalmente em Belém. O que não significa validar sua importância somente a partir desse período; seria uma injustiça com Valdir Sarubbi, Ronaldo Moraes Rêgo e Jocatos, grandes artistas responsáveis em manter viva essa tradição. Foi o surgimento de uma nova geração de excelentes gravadores preocupados em trabalhar de maneira colaborativa e em diálogo com a tradição da gravura brasileira, reconhecendo-a e integrando-se a ela, que talvez tenha sido a maior contribuição de todos esses anos de persistência – anos, diga-se de passagem, ainda germinais.
De fato, podemos assegurar que existe uma gravura na Amazônia capaz de afirmar-se no cenário contemporâneo - os trabalhos falam por si. Contudo, vale a pena penetrar um pouco mais nas obras presentes e perceber os desafios impostos aos métodos de trabalho com a gravura em metal verificados, por exemplo, em Elaine Arruda, Pablo Mufarrej e Ronaldo Moraes Rêgo; as expansões que definem outros campos da linguagem com o emprego das novas mídias - limites explorados nas estampas numéricas de Alexandre Sequeira e Véronique Isabelle - e a liberdade como Jocatos e Eliene Tenório incorporam signos identificados com o universo feminino e suburbano, sem perder de vista as qualidades que são peculiares ao meio gráfico.
As obras presentes trazem o vento úmido e contaminado dos portos do Norte, que nos alimentam por séculos com sinais vivos da ancestralidade. Lugar, este, sentido e compartilhado.