ERINALDO CIRINO, DESENHOS
JOGOS E LABIRINTOS
Por Alberto Amaral
A série
de obras do artista paraense Erinaldo Cirino, expostas no Atelier do Porto, opera
um jogo de tensões entre o Real e o Simbólico. Para tanto, vale-se dos
espelhamentos, do duplo, que possibilita ao artista desvelar as margens desse abismo expressivo - ele nos deixa lá, sem conclusão.
As imagens movimentam-se em torno do vazio, espaço negativo do Real. Trabalha
com a destruição daquilo que ele próprio construiu, tensão
consciente/inconsciente, cujo efeito é o do túnel: destrói para construir. Em Jogos
e labirintos o artista nos apresenta situações ordinárias que se tornam
extraordinárias graças a mecanismos que terminam sempre em abismos. São imagens
que fazem o observador questionar o que nunca tem apenas uma única resposta possível.
Se pensarmos no que existe na natureza e no que existe na imaginação, como duas
partes de um mesmo arquivo, o mecanismo utilizado por Cirino nos remete ao
“Bestiário” de Julio Cortazar, promovendo uma reorganização, um embaralhamento
sutil dos arquivos, de maneira que algumas peças fiquem deslocadas de sua
classificação. O resultado é um bestiário que se constrói impulsionado por seu
inconsciente, nos apresentando uma realidade de que lhe É - movimento com que
Cirino vai de uma parte a outra do arquivo sem que a transição seja aparente,
ou encontre um paralelo. Suas imagens remetem o observador para dentro de si em
busca do que complemente sua narrativa deixada em aberto, faz com que o
espectador experimente o jogo: vazio que o olha; vazio que de certa forma nos
constitui.
Para que seja possível esse movimento é
necessário que exista o abismo, essa organização em torno do vazio que preserva
o mistério, que coloca limites ao que faz parte da ordem do dizível.
A exposição ficará até 06 de agosto.
ATELIER DO PORTO
Tv. Gurupá, 104 (entre Dr. Malcher e Dr. Assis)
Cidade Velha / Belém-PA
Agende sua visita: 30856438 / 983944792